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CAPÍTULO 21 — Fracasso de um, sucesso de todos
Realidade Virtual, Terra-02, sala de aula.
Ainda na sala de aula, a aura de pavor e medo pairava sobre os alunos. Otávio que havia acabado de conhecer seus mais novos colegas de classe, mesmo com a sua idade superior à do professor, sentiu a pressão naquelas palavras e realmente acreditava que aquilo seria pura tortura, só não sabia quando iria começar.
— Hoje é o primeiro dia de aula, mas as nossas, serão bem diferentes das que são na realidade. — Avisou Kibitor logo após o medo que impôs em seus alunos. Porém, o clima havia ficado pior — Essa pergunta pode não fazer sentido, mas quem aqui já ativou seus poderes pelo menos uma vez, acidentalmente ou impulsionadamente?
Com o total de vinte alunos que estavam presentes, dez nunca ativaram, mas já possuíam, cinco já ativaram uma única vez por impulso de se defender e os cinco restantes só ativaram também uma única vez por acidente, causando algum tipo de confusão ou destruição, este sendo o caso de Otávio.
Tendo em vista tantos casos diferentes de novatos, Kibitor já imaginou que daquele momento em diante os dois primeiros anos passariam como vento sobre uma árvore cheia de folhas verdes que ainda estavam em fase de crescimento.
– Certo, começarei com quem ativou por acidente. Otávio, você será o primeiro, já que foi selecionado pelo próprio senhor Freizen. — Pronunciou chamando-o para a frente da sala.
“Sério? Já quer me humilhar logo no primeiro dia de aula! ”
— Sim, professor!
Com o semblante envergonhado na cara e no corpo, ele se dirigiu para a frente dos alunos ao lado de Kibitor. Com todos eles o olhando cara a cara, o professor deu as orientações para ele poder realizar a sua primeira tentativa:
— É o seguinte, igual a você, todos sabem os poderes que possuem. O que o senhor irá tentar é ativar esse poder. Como já fez de primeira por acidente, ocorre a chance de 0,5% de conseguir logo no início. Entretanto, nunca se sabe. — Deu a primeira explicação. Depois de uma pausa, continuou com a segunda — Estenda os seus braços sobre este objeto. Em sua mente, pense em outro completamente diferente, e com esse pensamento, tente ativar o seu poder transformando este objeto real em que está pensando.
“Ok, faremos isso funcionar. Aqui não é um anime, mas quem sabe não posso tirar o poder de algum lugar? ”
Logo após um rápido pensamento, ele estendeu as mãos sobre uma pequena mesa de 50 cm de altura e fechou os olhos, para conseguir focar em outro objeto totalmente diferente. A sua concentração era algo fora do comum, todos da sala incluindo Kibitor ficaram em silêncio absoluto, que se conseguia ouvir um zumbido muito incomodante vindo dele.
Ele começou a focar no objeto em sua mente o mais forte que conseguia para mudar o que estava à frente. Dois minutos se passaram, porém, nada aconteceu, nem mesmo uma partícula de luz deu qualquer sinal de vida naquele curto período de tempo. Sem saber do resultado, ele abriu os olhos para entender o que aconteceu:
— Deu certo? — perguntou para si mesmo ainda sem processar a informação — Não… Não deu certo, se eu tivesse conseguido, faria algum barulho pelo menos. — Continuou suspirando pelo seu fracasso na frente de todos. Com a mesa intacta, sua raiva subiu à cabeça e chutou-a fortemente para se aliviar da humilhação. O problema é que, assim que a chutou, a mesma bateu na parede e se detonou em pequenos pedaços de madeira. Sem entender o porquê, sua forma havia aumentado.
— Otávio! — gritou em alto som o nome do seu aluno — O que pensa que está fazendo? Quer ser suspenso no seu primeiro dia de aula? Não é por que você foi invocado pelo Líder que vou te dar colher de chá! Será tratado como todos os outros alunos aqui presentes. Se fizer mais um ato parecido, irá ficar 1 mês de suspensão das aulas. — Terminou o sermão com o semblante enraivado e envergonhado em simultâneo, pelos alunos que assistiram aquela cena. — Muito bem, você falhou! Veremos agora os seus dois novos colegas de carteira. Keelser, você será o próximo! — chamou o próximo aluno que testaria os seus poderes.
O garoto desceu até a frente da sala ao lado do professor, ficou ereto e de mãos juntas, suando frio, mais com medo do que de vergonha, pois um trauma vindo da sua família sempre o assombrava quando tentava ativar o poder: a morte de alguém amado.
Seus pais sempre o acolheram a sua vida toda, porém, todos comentavam como era repugnante manter por perto um garoto que havia matado a pessoa mais importante entre eles, e isso o fez sofrer por dois longos anos.
— Meu poder é meio complexo e perigoso em simultâneo. Segundo os médicos e meus pais, consigo manipular o sangue de qualquer ser vivo bem como as células do corpo, incluindo todos os órgãos.
— Você poderia “tentar” nos demonstrar esse poder? Não precisa se forçar logo no começo, só tente liberá-lo conforme a sua vontade. Todos falham e nem sempre acertam, sinta-se tranquilo! — Explicou na tentativa de aliviar a tensão de seu aluno em fase de experiência de vida e crescimento.
— T-Tudo bem, darei o meu melhor! — Respondeu-o com um certo grau de confiança do fundo do seu ser. Já focado, o garoto fez a sua primeira tentativa por conta própria.
Igual a Otávio, Keelser se concentrou tão profundamente que um silêncio pairou novamente. Entretanto, um certo ruído quebrou a tensão. Para não ferir ninguém, ele focou o seu poder em si mesmo. Seus braços começaram a crescer e as veias saltaram como se fossem pequenas bombas explodindo de seu corpo.
Nisso, um tipo de líquido começou a sair das pontas de suas unhas, se concentrando nas palmas das mãos. A substância continuou a sair lentamente, até que formou duas bolhas nas suas duas mãos. Reagindo a isso, ele se concentrou em dar forma para essas pequenas bolhas.
Ele pensou no objeto mais fácil que achava conseguir moldar e fez essa informação passar do seu cérebro, viajando entre seus ombros e braços, até finalmente chegar em suas mãos, essas que, quando receberam a informação do seu pensamento, mudaram a forma líquida das bolhas que estavam em contato diretamente com a pele.
Elas começaram a mudar lentamente para sólida, ganhando tamanho, detalhes e relevo. Surpreendentemente elas estavam se transformando em duas simples facas de cozinha com um fio maior e mortal que o objeto original. A sua forma bem detalhada e o brilho fez com que todos da sala se assustassem, até mesmo Otávio.
— Consegui, finalmente! Pela primeira vez, fiz isso sem machucar ninguém! — Gritou o garoto com lágrimas escorrendo de seus olhos e suas bochechas avermelhadas pelo grande sorriso moldado em seu rosto.
Porém, a alegria durou pouco. O sangue que deu forma aos dois objetos se desfez, se transformando novamente em líquido. E o pior é que não retornou ao corpo do garoto, acabou despencando no chão, espalhando-se por todo o lugar, começando a secar. Era cerca de um litro perdido do corpo, o que fazia uma falta tremenda.
Isso fez o garoto perder a consciência na hora e despencar contra o chão, também pela dor tremenda que veio pela falta de sangue no seu bombeamento interno. Os olhos reviraram até a pupila desaparecer, e a pele foi de um rosa vivo para uma cor pálida o suficiente para observar as veias saltando. Otávio e Kibitor que eram os mais próximos, correram desesperados ao socorro do menino, que foi imediatamente encaminhado para os primeiros socorros do colégio.
Trinta minutos depois, de volta para a sala.
— O colega de vocês não corre perigo, só precisa de sangue, pois o que ele manipulou aqui não retornou de volta para o corpo. — Explicou o professor — Pessoas que não sabem ativar o poder corretamente podem acarretar um tipo de resultado parecido. Vou ensiná-los a não ter este resultado. Os treinos serão literalmente de matar, entretanto, irão precisar passar por algo parecido com isso uma hora ou outra na vida. E o meu trabalho é esse, adiantar esse processo.
Otávio com o resto da sala simplesmente abaixaram a cabeça enquanto ouviam aquelas palavras, não de sermão, mas de conselho de alguém que era o professor. E, além disso, o diretor e o terceiro mais forte do planeta, eles não poderiam simplesmente ignorar, ninguém poderia. Depois das suas palavras, Kibitor inspirou e expirou levemente, acalmando o seu corpo por alguns minutos e continuou a sua fala:
— Otávio e Keelser já se apresentaram, agora pode ser você Magnólia, venha até a frente da sala.
— S-Sim, senhor — gaguejou ao respondê-lo, indo em direção ao quadro.
— Primeiro, nos fale sobre o poder, o que você sabe até então. Em seguida, tente ativá-lo.
— O meu poder é a criação e o controle de ervas e plantas venenosas. Posso fazer elas brotarem de qualquer lugar que eu quiser, seja de um corpo ou nas paredes, no chão, etc.. Porém, ainda não consegui ativá-lo corretamente. — Informou para todos com certa vergonha em seu rosto e com o corpo tremendo como se estivesse com frio.
— Tente nos mostrar. E como eu já havia dito, não importa se falhar, o importante aqui é conseguir ativar — Disse motivando a sua aluna para que a mesma pudesse ter sucesso em sua primeira tentativa.
Com a sua concentração ativada, ela canalizou toda a sua energia em seu corpo, assim, primeiro começou a brilhar em uma baixa intensidade, formando uma aura em volta do seu corpo. Já nesse estágio, suas veias começam a dançar em seus braços, mas não se alteram de tamanho.
Percebendo estar indo bem, vários pensamentos de diferentes plantas eram enviados para as glândulas do seu sangue em suas veias. Essas glândulas cresceram rapidamente em seu braço, mas por alguma razão, seu sangue não escapava, o que impressionou Kibitor logo de primeira.
Essas começaram a germinar igualmente sementes em terra úmida e cresceram rapidamente. Isso fez com que todo o seu braço ficasse coberto de plantas, algumas de coloração verde, outras vermelhas e amarelas. Depois que cresceram o suficiente, ela se concentrou novamente, isso fez com que os pequenos galhos caíssem, indicando o amadurecimento.
Quando todos caíram, seus braços voltaram ao normal e seu sangue circulou novamente.
— Parabéns Magnólia, você conseguiu ativar seu poder com sucesso e sem se ferir! — Comemorou vitória de sua aluna, a primeira em toda a classe que ativou seus poderes sem machucar a si mesma ou aos outros.
— Obrigada, professor, não esperava que fosse conseguir… Mas me sinto exausta! — Reclamou pelo seu estado físico de energia ter chegado ao fim.
— Tudo bem, pode voltar para o seu acento. — Acatou ao clamor de sua aluna cansada em demasia.
— Um não conseguiu nem ativar, outro conseguiu, mas desmaiou, e a outra conseguiu com sucesso. Sabem por que isso aconteceu? — Indagou para a toda sala. Logo após respondeu:
— Poderes diferentes exigem conhecimento prévio, pois assim, quando ativarem, já vão saber mais sobre ele para conseguir usar sem grandes problemas. Otávio mesmo, não sabe absolutamente nada sobre o seu, só o nome. Ele chegou nesta Terra sem experiência alguma anterior, sem informações, por isso não conseguiu ativar. Keelser já o realizou uma vez, mas por acidente, e isso gerou-lhe um trauma que o fez conseguir ativar seu poder, mas não a controlá-lo como deveria. Já Magnólia havia adquirido experiência anterior, mesmo sem ativar nenhuma vez, por isso além de conseguir usá-lo de primeira, conseguiu manter o controle e finalizar com êxito.
“Então é isso que eu preciso, aprender antes e executar depois. ” Pensou Otávio na questão do estudo de seu poder.
— Já sabendo disso, essa será a primeira atividade de vocês. Todos aqui irão à biblioteca para pesquisar sobre o seu poder individual. Terão uma semana de estudo. Depois disso, testarei a todos para saber o que aprenderam. E quem não conseguir realizar nada aqui na frente, terá que responder há um questionário de 1000 perguntas subjetivas e objetivas. Boa sorte a todos e bons estudos! — Encerrou a sua fala para todos. No mesmo instante, o sinal havia tocado, a primeira aula daquela turma acabou.
— Agora ferrou bonito. Como encontrarei algo que explique como alterar um objeto em outro? Acho impossível. — Disse já angustiado pelo seu dever que lhe foi passado.
— Não se preocupe velhote, vou te fazer companhia, estudará comigo, agora que já somos colegas. — Falou Magnólia tranquilizando Otávio por um instante.
— Bom, então aceitarei a sua ajuda de ótimo grato.
— Não há do que agradecer! Vamos? Temos que ir embora.
— Certo, vamos.
Com isso, os dois saem juntos da sua aula rumo a biblioteca para conhecer o novo espaço e começarem a estudar. Sem saber muito o que esperar, a dupla se sente desconfiada, mas encorajada a encontrar o que desejam nas páginas dos livros. Otávio sentiu-se mais confiante por ter uma companhia, visto que seu sentimento de estar deslocado ainda pairava até a primeira aula. Ao menos agora esperava fazer alguma amizade com sua parceira de biblioteca.
Continua…